sexta-feira, 22 de julho de 2011

A perigosa relação entre religião e poder.

Por Wagner Cassiano


Para começo de conversa: sou católico. Acredito ser importante essa declaração para que nem pensem que se trata de um anticlerical a criticar todo o tipo de fé. Não só reconhecerei a importância da fé para o desenvolvimento moral do indivíduo (embora nem sempre funcione assim), mas muitas das religiões, sejam as monoteístas ou não, muito contribuíram para o desenvolver da cultura, como o exemplo da Idade Média e vários outros cientistas seguintes, dos séculos XVI ao XVIII e mesmo para a posteridade.
O grande problema da questão? A discriminação e a relação das instituições religiosas com as instituições políticas. Inevitável, a bem dizer. O homem é um ser político, já afirmava Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), logo, todas as suas manifestações acontecem em sociedade e influenciam a outrem, dada a nossa natureza de agente modificador. A religião não deixa assim de ser intrinsecamente política. Nem por isso, isenta de críticas.
A conduta religiosa em sua base não exprime uma moral universal: os exemplos bíblicos chegam inegavelmente a exortar seus seguidores para uma determinada forma de ascetismo, ao desapego à sociedade para uma vida de contemplação e busca pelo transcendental. O que já elimina qualquer forma de generalização da moral religiosa, quando reconhece que em sua privacidade e no desligamento de assuntos públicos que o ser humano, homem e mulher, se aproximam da natureza divina. Não à toa, em pleno Renascimento cultural e científico, muitos dos grandes pensadores e cientistas questionaram os dogmas cristãs para o desenvolver de suas experiências e teorias, a exemplo de Giordano Bruno, que buscou inclusive conhecimento de livros místicos, e Galileu Galileu, que sai da rigidez das Sagradas Escrituas para buscar através da matemática e da experiência outros resultados para a Física.
Os exemplos históricos são inúmeros para a intervenção negativa da religião na organização social. Vimos uma segregação social "legitimada" pelas Sagradas Escrituras na sociedade estamental da medievalidade européia. O massacre da Mesquisa de Al-Aqsa, em Jerusalém, na Cruzada dos Barões, é um dos exemplos das consequências da intolerância religiosa. Em 1929, a Igreja Católica Apotólica Romana e seu papa apoiaram o regime fascista de Mussolini, para a criação do Estado do Vaticano, no Tratado de Latrão. E em 1979, bem perto de nossa época, o aiatolá Khomeini inaugura o fundamentalismo xiita que rompe significativamente o intercâmbio entre as culturas cristã e islâmica.
As raízes do teocentrismo medieval de sociedade provincianas ainda está muito presente no nosso Brasil em que parte significativa de nossa população segue os dogmas cristãos, seja em sua forma católica ou em sua forma protestante. Em ambas, não em todos os casos, claro, ainda podemos ver uma interpretação descontextualizada das Sagradas Escrituras e o descaso completo para toda e qualquer manifestação desligada da religião. Como Richard Dawkins bem observa, ainda há forte preconceito para com o ateu e todo aquele que não professa a religião cristã. E como podemos falar de ensino religioso, quando as manifestações de inúmeros outros sectos religiosos, dese a umbanda e candomblé da África até o budismo e taoísmo asiáticos, são desconsideradas? Por que não aprendermos o Tao Te C'hing de Lao Tsé? Ou mesmo a obra de Allan Kardec?
Meu primeiro texto está aqui terminado: serei crítico comigo mesmo e reconhecer que esperava mais (risos). Aceito todo e qualquer tipo de crítica, além poder fundamentar melhor meu posicionamento acerca do tema.

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